Se o hipocampo é uma estrutura muito importante para a aprendizagem de factos isolados, importantes e novos, também se pode, de acordo com os estudos efectuados, ter quase uma vida normal sem o hipocampo (Vargha-Khadem 1977).
Relativamente a três casos de jovens que tinham sido privados do hipocampo, verificou-se que iam à escola como as outras crianças tendo desenvolvido a linguagem quase normalmente. Também ao nivel do comportamento, as falhas eram poucas só manifestando algumas lacunas no regresso a casa uma vez que se esqueciam do caminho.
As emoções desempenham um papel importante na aprendizagem. Uma excitação emocional aguda, pode desencadear uma melhor retenção dos assuntos. O que são então as emoções e qual o seu papel e importância na aquisição de aprendizagens?
Kempermann e col., em 1997, descobriram que sempre que animais adultos se encontravam em contextos estimulantes, se formavam novas células nervosas no hipocampo. E, Eriksson e col., em 1998, demonstraram que, também no ser humano se formavam novas células nervosas. esta descoberta foi corroborada por Gold (1999) e Unger e Spitzer (2000).
No entanto, em 2001Pasko Rakic da Universidade de Yale afirmou em artigo publicado na revista Science que a neurogénese é impossível em humanos adultos, não ocorrendo sequer no cérebro de primatas (RAKIC, 1985). Desde então a estabilidade do número de neurónios é usada para explicar o processo de aprendizagem contínua e a memória (RAKIC, 1985), além de justificar a inevitável degradação das funções nervosas com o avanço da idade, a qual seria causada pela morte dos neurónios.
Porém, esta teoria não é defendida por todos. Um grupo de pesquisadores liderados por Elizabeth Gould usou técnicas mais recentes e mostrou que o nascimento de novas células nervosas era sim possível em primatas adultos (GOULD et al, 1998 GOULD et al, 1999). O mais importante é que os novos neurónios foram encontrados em locais supostamente responsáveis por funções complexas, como a memória, a tomada de decisões e o reconhecimento de formas.Os estudos de GOULD foram revolucionários, nomeadamente porque se referem à área mais complexa do ser humano: o córtex cerebral.
Contudo, em estudos mais recentes David Kornack e Pasko de Rakic usando os mesmos métodos de análise que a equipa de Elizabeth, encontraram novos neurónios somente no bulbo olfativo, responsável pelo olfato, e no hipocampo, responsável pela memória a curto prazo, sem contudo verificarem a neurogénese no neocortex, afirmando que as células novas, ali encontradas, não eram neurónios (KORNACK & RAKIC, 2001).
Os resultados controversos destes estudos ainda estão longe de terminar uma vez que o assunto é polémico dado que algumas dúvidas se levantam, nomeadamente no que respeita à antiga crença baseada no paradigma tipicamente cartesiano, amplamente ultrapassado, cuja questão era: se a memória é permanente e o córtex é responsável por ela, então o córtex deveria ser fisicamente imutável.
No entanto o que parece mais verosímil é que nascem novas células que participam de funções cerebrais importantes e a sua perda e o seu nascimento parecem estar relacionados com os desafios cognitivos (KEMPERMANN et al, 1997; SHORS et al, 2001; GOULD et al, 2000). Assim, não podemos ser deterministas, nem rotular pessoas por sua maior ou menor capacidade para determinada tarefa, tal como não podemos desprezar os idosos, como se estivessem fadados a uma inevitável e irreversível perda das funções nervosas.
O que parece mais provável, até pela experiência relativamente a outras situações (sabemos que a ginástica desenvolve e aumenta os músculos) todos se podem desenvolver se estimulados adequadamente! E, mais do que nunca se afirma que somos produto da nossa interacção com o meio, que o nosso desenvolvimento depende tanto das oportunidades que nos são dadas quanto da nossa maneira de encarar estas oportunidades, em qualquer tempo e em qualquer idade. De acordo com os estudos referidos, tudo leva a crer que o hipocampo cresce em consequência da experiência e funciona tanto melhor quanto maior for a sua estimulação.
Ora, não podemos esquecer que, a cada fracção de segundo, o mundo nos oferece milhões de desafios e que a escolha é nossa: se usaremos as nossas cabeças analisando criticamente o meio (e possivelmente ter mais neurónios) ou se ligamos a televisão para "relaxar".
A partir deste exposição, podemos então referir-nos ao hipocampo como um "detector de novidades" uma vez que ele entra em acção sempre que aprendemos algo de novo. No fundo ele, porque armazenou muitos conhecimentos, em face das novidades, pode ajuizar se lhe são ou não familiares e, se algo jé é conhecido, não precisa de se preocupar com isso mas, se alguma coisa é desconhecida, então o hipocampo precisa de a avaliar e, para tal, apoia-se nas estruturas adicionais do cérebro implicadas nesta função.
Sempre que o hipocampo avalia uma coisa nova como interessante, armazena-a, isto é, constrói uma nova representação. É com base neste conhecimento que se defende a necessidade de que haja coisas novas e interessantes para que as nossas estruturas internas de aprendizagem as recepcionem e as apreendam rapidamente.
Concluindo: o hipocampo é importantíssimo para que as aprendizagens aconteçam e, sem ele, o Homem não pode viver. No entanto, há aprendizagens que se podem realizar sem o hipocampo uma vez que há aprendizagens para além do conhecimento de pormenores isolados e, como sabemos, aprendemos muito melhor histórias associadas a factos do que apenas os factos isolados que não apresentam nenhuma relação entre si. Estes factos isolados apenas farão sentido se e quando relacionados para que se tornem interessantes, critério fundamental para que os "guardemos" na memória e se registem como aprendizagem.
O hipocampo situa-se a um nível muito profundo do cérebro, à direita e à esquerda, no interior dos lobos temporais do córtex cerebral. Esta é uma estrutura fundamental para a aprendizagem de acontecimentos de tal modo que, para que algo de novo seja aprendido, deve ser registado no hipocampo.
O caso do doente H.M., que sofria de epilepsia incurável e a quem foi extirpado bilateralmente o hipocampo e áreas circundantes do cérebro, foi muito importante na comunidade neurocientífica internacional e demonstrou a importância atribuida a esta estrutura na aprendizagem, dado que, com a extirpação, deixou de ser capaz de aprender novos conhecimentos, nomeadamente não reconhecia os médicos e os psicólogos que o acompanhavam e que tinham que se apresentar cada vez que o viam de novo, pois ele esquecia-se com quem tinha falado na última vez. Depois da ablação desta estrutura, H.M. era capaz de ler o mesmo jornal várias vezes e surpreender-se sempre, de novo, com as notícias. Mais difícil ainda foi quando teve de mudar de casa pois não conseguiu orientar-se na sua nova casa. No entanto, embora não fosse capaz de aprender e recordar novos conhecimentos isolados para os quais o contributo do hipocampo é fundamental, tinha capacidade de aprender novas habilidades, tal como a escrita em espelho que entretanto lhe foi ensinada e que aprendeu facilmente. Assim, podemos depreender que facilmente poderia aprender a andar de bicicleta ou a interiorizar regras gerais através de exercícios continuados porque nessas aprendizagens não é preciso o hipocampo. Porém, não era capaz de se orientar na sua nova casa pois o hipocampo é fundamental para a memorização de locais e para o sentido de orientação espacial.
Os resusltados dos estudos efectuados em animais e alguns em pessoas, mostram como o hipocampo é importante para a capacidade de representação de pormenores. Inclusive podemos dizer que as pessoas que têm maior capacidade de orientação e de representação de locais, têm um hipocampo maior. Contudo, ainda não se descobriu se esta estrutura é maior à partida e por isso é que as pessoas têm maior sentido de orientação ou se se tornou maior depois da estimulado, crescendo, por isso, à posteriori.
Há representações que são mais do que imagens geradas pela percepção, são acções - apertar os sapatos, são relações coerentes - nuvens negras indiciam chuva, valores - a união faz a força, alvos - ter descendentes por exemplo, e também, a linguagem.
Aprender não apresenta problemas, a menos que alguma coisa não esteja bem na nossa cabeça, como por exemplo, se estivermos cansados ou sob os efeitos do álcool.
Há diferentes formas de aprendizagem, pois tanto aprendemos acontecimentos, isolados como regras globais. Isto acontece de acordo com diferentes princípios e também com diferentes regiões especializadas do cérebro.
Novidade e significado são duas qualidades, dois ingredientes fundamentais que o cérebro utiliza para guardar os conhecimentos, especialmente como eles são e como eles são vividos por cada um, no momento em que se vivem. Tal acontece devido a uma estrutura muito importante para a prendizagem, nomeadamente de acontecimentos isolados, o hipocampo. No entanto, as habilidades ou as regras gerais aprendidas através de exercícios continuados, não necessitam da intervenção do hipocampo. Então, quando queremos aprender alguma coisa sobre a aprendizagem, o hipocampo é o ideal.
Aprender não é um processo passivo. É antes um processo activo ao longo do qual se realizam transformações no cérebro de quem aprende.
Quanto mais intensamente utilizamos os conteúdos, mais vestígios ficam na nossa memória. Quanto mais conteúdos forem usados e mais frequentemente e mais profundamente, maior e melhor retenção, melhor a sua memória. (EX: Quando se pede para decidir se determinado conteúdo é animado ou inanimado, é necessário um esforço maior do que se se pedir para dizer se as palavras estão escritas com letra maiúscula ou distinguir um verbo de um substantivo. E, é relativamente à primeira distinção que a retenção na memória é maior). É por isso que se diz que, quanto mais profundamente for trabalhado o conteúdo, mais facilmente se memoriza.
A aprendizagem está, na maioria dos casos ligada a aspectos negativos, a uma actividade desagradável. No entanto, aprendizagem não tem de se ligar à escola e às frustrações a ela ligadas. De facto a aprendizagem não se liga apenas à escola pois o nosso cérebro está sempre a aprender, isto é, nascemos para aprender.
Aprender pode provocar, em muitas pessoas, medo. Enquanto as crianças se apresentam curiosas , os jovens e os adultos costumam apresentar algum receio face às novas aprendizagens. É como se gostássemos do velho, da comodidade que o conhecido promove...
O problema das novas aprendizagens tem a ver com a mudança. Quem aprende muda. Quando aprendemos algo de novo, não ficamos na mesma já que, para além de aprendermos material novo, também nos transformamos. A recepção do novo implica sempre mudança em quem recebe: "O homem transforma-se quando aprende", "Quem aprende arrisca a sua identidade (isto é, as experiências e os valores que constituem a sua pessoa)". E isto causa medo, receios intensos...
Aos vestígios que ficam em nós, das impressões fugidias que vêm de fora, dá-se o nome de representações do mundo exterior. Estas representações são designadas por aprendizagem. O cérebro e os seus componentes, as células nervosas (neurónios), são especializados em construir representações (na dependência do meio envolvente) e em transformá-las.